O silêncio da saúde

“Todo ser nasce com a possibilidade de ser feliz, saudável e se autorrealizar e a doença representa o bloqueio dessas capacidades no ser humano. A saúde é silenciosa e pouco nos fala, porém, quando adoecemos todo o nosso organismo começa a falar conosco”.

Nadia Nardesi

A comunicação de nosso corpo é bem mais enfática quando adoecemos. Os sinais de dor e desconforto são mais perceptíveis e falam mais alto a nossa consciência. No entanto, quando estamos com saúde, muitas vezes temos dificuldade de descrever esta sensação de bem-estar, nos limitando com algo como “Estou bem”, “Estou normal” ou até mesmo – “Eu não sinto nada“!

Parece que nos faltam palavras ou meios de comunicar o nosso bem-estar. Já os adjetivos ou expressões para o nosso desconforto surgem de forma mais fácil e mais elaborada. “Sinto que tenho um guarda-chuva na boca”, “Minhas costas estão duras como uma pedra”, “Parece que eu pisei num vespeiro”, “Tem uma brasa queimando em meu estômago”. Na dor, somos quase poetas.

Evolutivamente, isso faz muito sentido, pois nos tornamos mais atentos ao que interessa quando algo sai do seu estado de normalidade, e portanto os sinais de que estamos bem – embora tenha uma sensação geral de bem-estar – nos chamam menos a atenção do que quando estamos com dor, desconforto ou perigo. 

Somestesia é a capacidade dos humanos e animais de receber informações de diferentes partes do corpo e que nos ajudam na percepção de nosso estado interno, tanto de bem estar ou de desconforto. É através dos nossos 5 sentidos que percebemos o mundo exterior, mas há também uma série de percepções outras que nós usamos para saber como estamos internamente, conseguindo assim informações sobre a nossa temperatura, nosso equilíbrio, nosso estado emocional e fisiológico.

O problema surge quando a percepção entre o que está bem e o que não está fica corrompida e a comunicação com o nosso corpo fica prejudicada, dificultando um diagnóstico preciso sobre o que sentimos. Ou estamos fora de perigo, mas o nosso corpo insiste em nos dizer que não estamos bem, ou estamos mal, mas não conseguimos “ouvir” o que o nosso corpo nos diz à respeito. 

Este “desalinhamento” entre a realidade do nosso corpo e nossa percepção pode gerar tanto uma hipersensibilização dos sentidos, levando a pessoa a reagir com intensidade com um mínimo de estímulo ou  – ao contrário – a uma insensibilidade, onde a pessoa não responde a estímulos ou tem dificuldade de perceber em seu corpo as alterações passadas. 

E como podemos tentar corrigir esta diferença que há entre o que acontece conosco e o que percebemos, de forma saudável? Existem algumas técnicas que trabalham com o nosso corpo e que conseguem, através de sua prática ou de suas sessões, aumentar a nossa consciência corporal. Esta consciência é fundamental para que nós possamos ter uma percepção correta do que estamos passando, seja bom ou ruim. Temos que ter em mente que tudo o que nós experimentamos, nós experimentamos no corpo. Todas os nossos pensamentos, sensações e emoções acontecem nele. E só acontecem porque temos um corpo. Toda técnica que amplia nossa conexão com ele vai ajudar a sabermos melhor como nos sentimos e o que nos aflige. 

Entre estes métodos eu tenho visto muitos resultados positivos com duas técnicas breves que trabalham como base a nossa percepção corporal: A respiração Bioflow, desenvolvida por Fanny Van Laere, e a Experiência Somática, ou Somatic Experiencing₢ no original em inglês, desenvolvida por Peter Levine. A respiração Bioflow trabalha com a nossa respiração, desbloqueando distúrbios que nos impedem de ter uma vida plena, realizando um alinhamento entre nossas sensações, emoções e nossa consciência racional. A Somatic Experiencing₢ trabalha com a ajuda de um terapeuta em que desconfortos, traumas e questões que trazemos para a terapia são trabalhadas de forma a que o próprio corpo possa liberar tensões e bloqueios de forma muito suave. 

As técnicas têm suas diferenças de aplicação e metodologia, mas ambas trabalham com um pilar em comum: O aumento da consciência corporal e emocional que vai gerar um estado de maior presença e consciência, um aumento da resiliência no cliente que por sua vez vai influenciar em como ele se posicionar frente ao mundo. São técnicas que nos ensinam a ouvir melhor o nosso corpo e enxergar melhor as emoções por trás de tudo o que percebemos em nós e ao nosso redor.

E com elas aprendemos melhor a ouvir o nosso corpo e também a expressar melhor o que se passa conosco. E aprendemos a fazer isso através do nosso corpo, e para o bem estar dele. 

Referências

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47135/tde-19112001-111659/publico/tde.pdf

https://www.traumatemcura.com.br/somatic-experiencing/oque-e

https://www.infoescola.com/sistema-nervoso/dor

http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/leo-tubarao/post/o-que-e-endorfina-e-como-ela-funciona-no-seu-corpo.html

Decisões, emoções e meio ambiente.

Dizemos que somos seres lógicos e racionais e que esta racionalidade é um processo que faz tomarmos decisões melhores para nós. Mas será que é sempre assim, a melhor decisão? Muitos fatores podem influenciar nesta “razão pura” e tornar o processo de escolha mais sinuoso do que pensamos.

Uma deles é a influência de nosso estado emocional e fisiológico. Mesmo afirmando que estamos “normais” ou que “não estamos sentindo nada diferente” ao fazermos uma escolha, fato é que sempre estamos sentindo algo e que esse estado emocional influencia em nosso processo decisório, mesmo que de forma subconsciente. Podemos aqui, de forma a simplificar este raciocínio, dizer que emoções são uma combinação de certos hormônios e neurotransmissores químicos que vão desencadear uma série de respostas corporais. Atividades como alteração da respiração e dos batimentos cardíacos, dilatação de pupila, preparação do corpo para defesa ou ataque, relaxamento… tudo isso baseado na quantidade de – por exemplo – adrenalina ou endorfina na sua corrente sanguínea entre outros componentes químicos, liberados por comandos em partes específicas do nosso cérebro.

Estas regiões liberam ou não estas substâncias como resposta a estímulos do meio ambiente em que estamos. Se você se sente ameaçado, ou não seguro, seu corpo se prepara instintivamente para se defender ou atacar – seja lá do que for. Se o ambiente não representa ameaça, então o corpo responde com comandos para você relaxar, pois não há ameaça imediata.

Biologicamente, não faz muita diferença para o corpo se esta “ameaça” é um tigre, seu chefe gritando, ou um ambiente em que algo inesperado pode ocorrer – e que nos põe em estado de alerta e de stress. E onde quero chegar com isso?

Há sempre a percepção de que, hoje em dia, todos vivem em estado de stress. Queixas corriqueira sobre se sentir estressado, cansado demais, num estado de contínuo desconforto. Muitas vezes, as pessoas justificam isso pela pressão do trabalho, a atenção constante aos filhos, o deslocamento nas grandes cidades. Estes estados, se vivenciados de forma constante, ganham uma nova dimensão: De irritação passa a agressividade. De uma tristeza podemos passar para uma depressão. E assim por diante.

Acontece que coisas muito simples, e sempre presentes, podem também influenciar em nosso estado emocional – e consequentemente em nossas escolhas – e que nem sempre prestamos a atenção devida. Coisas como a qualidade ou volume de ruído ou a intensidade luminosa do ambiente, por exemplo.

Já foi provado que nós tendemos a beber mais em ambientes ruidosos. Ambientes ruidosos aumentam a descarga de hormônios como o cortisol, que nos induzem a um estado de ansiedade e alerta constante. Se for um barulho alto e de curta duração, o corpo se sobressalta num susto, fica com um súbito medo, mas vendo que o perigo passou voltamos à normalidade. Mas se o barulho é constante, esta sensação de stress constante nos leva num estado de ansiedade e irritabilidade que demora a desligar. E assim, nosso processo de tomada de decisão fica prejudicado. Não é à toa que os donos de bares não ligam se o ambiente é ruidoso, acima do confortável. Você vai consumir mais, e é o que importa para ele. E bebendo mais, dificilmente tomamos melhores decisões (como ligar pra ex no meio da madrugada, bêbado).

O mesmo vale para música alta em restaurantes. Pesquisas na Universidade de Oxford e Flórida provou que em ambientes barulhentos nós tendemos a comer pior, a optar por um cardápio menos saudável. O motivo é que ambientes ruidosos aumentam o nosso batimento cardíaco e estado de stress. Ficamos mais ansiosos! E num estado de ansiedade tendemos a escolher comidas que nos façam sentir um pouco mais confortáveis, as chamadas “comfort food” e que nem sempre são as mais saudáveis – que escolheríamos de forma mais consciente se o ambiente fosse mais calmo e tranquilo, não nos deixando em estado de irritação constante.

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A iluminação é outro fator que altera nossa percepção e nosso humor. Aquela luz bem branca, quase azulada que você comprou para economizar na conta de energia está atrapalhando o seu sono, se você a usar em áreas de descanso. É que o espectro “azulado” da luz – o que as pessoas geralmente chamam de luz “fria” – tem uma frequência que ativa nossas respostas fisiológicas para atividades diurnas. Não é à toa que os escritórios são inundados com uma iluminação bem branca e bem forte. Isso ajuda as pessoas a manterem o foco, e se manterem alertas. O que se procura é deixar os trabalhadores em estado de atividade constante, mas que pode aumentar o nível de stress e irritabilidade, principalmente se considerarmos as longas horas de uma jornada de trabalho em ambiente de escritório.

Quando chegamos em casa, é o oposto que queremos. Precisamos de uma iluminação mais amena, e mais “amarelada” – ou seja, dentro do espectro de luz que vai induzir o relaxamento, e a produção de melatonina, o hormônio do sono. É como se quiséssemos dizer ao nosso corpo, “O perigo ou stress já passou, pode baixar suas defesas e descansar agora”. A luz branca de espectro frio tem uma alta temperatura de cor, acima dos 5.000K o que resulta em enganar o corpo, fazendo ele acreditar que ainda é dia. Assim a produção deste hormônio é cortada. Ao invés de nos prepararmos psicologicamente para uma boa noite de sono, estamos dando ao corpo um sinal invertido, de que ainda é necessário ficar acordado e alerta. Sem um descanso adequado, acordamos de mal humor, irritados e cansados. Difícil tomar melhores decisões assim.

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Portanto sempre que quiser tomar decisões mais conscientes, ou quiser ter uma conversa mais delicada, procure um lugar com as condições ideias para isto acontecer. Sem muitos ruídos, confortável e com iluminação amena. Assim você dá sinais ao seu corpo (e da outra pessoa) de que é possível relaxar. Estamos dizendo ao nosso corpo com um ambiente menos agressivo de que é possível ficar mais tranquilo, nosso batimento cardíaco vai abaixar, nossa respiração ficará mais profunda, e isso impacta em nosso estado emocional. Ficamos mais tranquilos, mais abertos ao outro, longe de um estado de stress ou de ansiedade. E mais conscientes, melhores decisões se tornam possíveis.

Se você tem uma experiência em que sentiu quando o meio ambiente influenciou negativamente em uma tomada de decisão, comente abaixo!

Fontes e Referências

Restaurantes barulhentos influenciam como pedimos comida
https://www.foodandwine.com/news/noisy-restaurants-ordering

Efeitos de música ambiente e ruído de fundo na venda de comidas
https://www.researchgate.net/profile/Dipayan_Biswas/publication/324843071_Sounds_like_a_healthy_retail_atmospheric_strategy_Effects_of_ambient_music_and_background_noise_on_food_sales/links/5b8184b2299bf1d5a7270a54/Sounds-like-a-healthy-retail-atmospheric-strategy-Effects-of-ambient-music-and-background-noise-on-food-sales.pdf?origin=publication_detail


Características de Risco e Percepção de Risco
http://oxfordre.com/communication/view/10.1093/acrefore/9780190228613.001.0001/acrefore-9780190228613-e-283

Millennials não suportam o alto ruído em locais de trabalho
https://www.citylab.com/life/2016/06/when-it-comes-to-workplace-noise-millennials-cant-even/487367/


Poluição Sonora: Efeitos não auditivos na saúde
https://academic.oup.com/bmb/article/68/1/243/421340

As promessas não cumpridas do escritório de planta livre
http://blog.oxfordeconomics.com/unmet-promises-of-the-open-plan-office

Hospitais buscam diminuir ruído em Unidades de Tratamento Intensivo para diminuir o Stress
https://www.oxfordcc.co.uk/custom-software/noise-levels-attract-intensive-care/

A importância da iluminação para o sono
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150129_luz_dormir_lgb

Entrevista e matéria com a crítica de arquitetura Kate Wagner sobre a influência de música e ruídos em restaurantes. Em formato de podcast
https://www.20k.org/episodes/diningondecibels

Nossa consciência emocional e o impacto nas crianças

Quando crianças somos espelhos dos adultos. E neles, também nos espelhamos. Crescemos imitando os adultos em nossa volta de forma a refletir seus comportamentos e também nos baseamos neles para continuarmos crescendo e aprendendo via seus exemplos. Mas o que acontece quando nós – os adultos – não sabemos lidar com o conteúdo emocional que nós temos? Que exemplo passamos para nossas crianças neste momento?

O ator da série Mad Men, John Hamm, tinha 10 anos quando sua mãe faleceu por um câncer de cólon. John conta numa entrevista a David Tennant o impacto que foi ver sua mãe perdendo rapidamente sua saúde, da dureza desta fase. O que me chamou a atenção em seu depoimento foi o relato de que o que mais assustou e o deixou desconfortável foi a visão de todos os adultos ficando instáveis com a morte e se desequilibrando. Isso o impactou bastante pois estava acostumado a ver os adultos como as pessoas que “resolvem as coisas” e mantém a linha. Ver todas as pessoas chorando, inclusive seu avô que era um veterano de guerra, deixou uma impressão bem forte no ator.

A vulnerabilidade demonstrada pelos adultos na época deveria ser algo natural e aceita. Mas a criação de uma imagem equivocada – de uma retidão emocional e inabalável por parte dos adultos da época para blindar a criança das adversidades da vida, não ajudou muito quando esta máscara caiu para a criança. Ele tomou conhecimento, neste momento, que muitos adultos também não sabem lidar com as suas próprias emoções.

É sempre um dilema para os adultos decidirem o que podem compartilhar com crianças e como. Essa história mostra que tentar passar uma imagem de que tudo está sempre bem e que você é capaz de resolver qualquer problema pode ser danosa quando você finalmente colapsa. Quando crianças, é normal vivermos num mundo em que realidade e fantasia se misturam. O mundo é mágico para a criança e deve ser, para o seu correto desenvolvimento. Estamos na fase do “papai sabe tudo” ou “meus pais são super heróis”. Mas será que isso isso significa privar a criança de todas as coisas ruins que ocorrem na vida? Como manter o equilíbrio, para que a criança possa ter forças quando algo inescapável como a morte chega perto?

O fato dela viver numa ilusão, onde os adultos aparentemente não tinham problemas emocionais, não choravam, e sempre sabiam como resolver suas questões criou uma falsa ideia sobre o que é ser adulto, que potencialmente gerou uma dificuldade na criança de confiança vendo que seu entorno desmoronou e os adultos estavam, na verdade, mentindo ou escondendo algo dele.

O melhor caminho fosse talvez mostrar que a dor é comum e que todos compartilham destes sentimentos, desde sempre. Isso pode ajudar a criança a entender e expressar de forma segura seus próprios medos e inseguranças.  Mostrar empatia ao sofrimento de todos pode melhorar a nossa resiliência, não se criando uma falsa esfera de proteção que além de irreal acaba separando as crianças num momento em que não faz sentido manter uma farsa, de que todos os adultos são auto-suficientes e inabaláveis.

Na biografia de John Hamm, não ter acesso a adultos saudáveis emocionalmente provou ter consequências negativas no longo prazo. Ele viu seus pais se divorciarem com 2 anos, perdeu a mãe aos 10 anos, e seu pai também aos 20 anos de idade. Ele conta que  – embora não tivesse consciência disso na época – o luto que começou aos 10 anos de idade levou praticamente 20 anos a mais para que fosse digerido pelo ator e tem reflexos até hoje, em seu medo de abandono e outras fobias e comportamentos. Alguns anos atrás o ator entrou para uma clínica de reabilitação para tratar seu alcoolismo.

Compartilhar ou explicar assuntos delicados para crianças não significa que elas devam resolver problemas de adultos. E certos assuntos sensíveis são realmente um desafio para explicar e põe à mostra nossa própria estrutura emocional. John conta como tentaram falar sobre a morte de sua mãe com um livro sobre a morte de pais, por exemplo. Isto não significa que o melhor caminho é esconder da criança que existe dor e sofrimento no mundo adulto, pelo contrário. São em momentos desafiadores como este, em que temos que lidar com nossos próprios medos e sombras que temos a oportunidade de ensinar de uma maneira sincera para uma criança o que é ser humano.

Você tem alguma memória de um momento similar em que percebeu uma diferença entre o que os adultos falavam e como se comportavam? Comente abaixo!

Referências

7 coisas que ninguém conta sobre perder os pais na infância

Biografia de John Hamm

Entrevista em podcast de John Hamm por David Tenant

Quando seu pai ou sua mãe morrem (livro)

John Hamm fala sobre a morte de seus pais

A fuga de nosso destino – O Complexo de Jonas

O Psicólogo americano Abraham Harold Maslow cunhou a expressão Complexo de Jonas para descrever a fuga do próprio sucesso – ou propósito maior de vida. Seria, junto com a dessacralização – assunto para outro artigo – dois dos mecanismos de defesa que o ego utiliza e que bloqueiam ao mesmo tempo nosso desenvolvimento em direção ao nosso potencial pleno.

Na parábola Jonas é convocado por Deus para pregar em uma cidade que o desagradava. Jonas deveria pregar para avisar que ela seria destruída pela ira de Deus. Ao invés disso, Jonas decide fugir na direção oposta, e embarca num navio para outra cidade. Deus envia uma grande tempestade que atinge o navio quase causando um naufrágio. Os marinheiros rezam para seus deuses, mas nada adianta. Pedem então para Jonas rezar para seu Deus, mas ele sabe que é culpado pelo infortúnio que aflige a embarcação. Os marinheiros não sabem mais o que fazer, e perguntando a ele que atitude tomar, Jonas diz: Joguem-me ao mar para aplacar ao meu Deus. Ao fazerem isso,a tempestade passa, e Jonas é engolido por uma baleia, enviado por Deus. Dentro dela, ora e suplica por 3 dias, até que ela o devolve à praia. Jonas então retoma para a cidade para fazer a pregação que havia se negado da primeira vez. A história completa você pode ler aqui.

Pieter Lastman – Jonas e a Baleia

A história é muito interessante por várias nuances. A fuga de seu destino, ou propósito; A culpa e a punição por estar fora de nosso destino; O sacrifício pela fatalidade causada;  O arrependimento e a redenção.

“O indivíduo se defronta a todo instante ao longo da vida quando deve optar entre os prazeres de segurança e do crescimento, dependência e independência, regressão e progresso, imaturidade e maturidade”.


Abraham Harold Maslow

Para ele, segundo Vera Saldanha, “O desenvolvimento da personalidade humana ocorre a partir de uma necessidade, motivo ou impulso soberano, com uma tendência inerente ao crescimento e autoperfeição”. Fugir de nosso destino, neste caso, causaria uma série de problemas psicológicos, de depressão a neuroses, pois nós bloqueamos o fluir da nossa vida em sua direção à plenitude.

Para Maslow temos dentro de nós as forças e a vontade inata para o autodesenvolvimento e a transcendência. Neste ponto, ele difere sutilmente de Freud e a ideia da libido como força motriz, e se aproxima mais de Jung, e sua ideia de vontade, de uma forma positiva. Era um crítico e um entusiasta da psicanálise clássica, ao apontar que muitos pesquisadores, antropólogos e sociólogos apontavam sempre as motivações inferiores, ligadas a coisas materiais e instintos de sobrevivência, e não as motivações superiores, como a ideia de sagrado, preceitos morais, que para ele são constituinte da natureza humana.

Dentro da Psicologia Humanista, O Complexo de Jonas ocorre sempre que nos defrontamos com uma oportunidade natural de desenvolvimento, mas que é impedida por um sistema complexo de bloqueios internos de nossa psiquê. Isso ocorre como um mecanismo de defesa, que é criado em momentos traumáticos em nossa história – seja ela biográfica ou mesmo hereditária.

Um exemplo seria se Ally, protagonizada por Lady Gaga em A Star is Born ao subir no palco para acompanhar Jackson, decidisse não ir cantar quando chamada, e congelasse de medo. Um outro exemplo seria quando Luke Skywalker, em um primeiro momento, quer ir à luta contra o Império, mas decide voltar para casa e foge do chamado no primeiro Star Wars. Só retorna quando percebe que seus tios foram mortos pelo mesmo Império Galático. Até mesmo o Homem Aranha, ao ser chamado para ir lutar na Alemanha, por Tony Stark no Filme Capitão América: Guerra Civil, tem como resposta imediata “Não posso, tenho dever de casa para fazer’. Todos acabam indo no final – afinal o filme tem que acontecer – e qual é a graça de filmar duas horas Peter Parker resolvendo álgebra para o colégio?

Maslow costumava perguntar aos seus alunos de psicologia: “Quem aqui vai escrever uma grande obra de psicologia?”, “Quem quer ser um senador, um governador, um presidente?” E frente as risadas nervosas de seus alunos, retrucava: “Se não vocês, quem?” “Por acaso almeja ser um psicólogo medíocre?” “Se vocês psicólogos não forem escrever os grandes livros de Psicologia, quem escreverá?”.

E como alterar este padrão, e retomar o caminho do crescimento?

É necessário reconhecer em que momentos o Complexo é ativado, e quais são as respostas emocionais e fisiológicas, de forma a identificar claramente o padrão e conseguir criar um ponto onde será possível explorar os eventos que levaram a este comportamento. Atualmente o trabalho terapêutico em diversas áreas é focado mais em nossas potencialidades, e não tanto em nossas neuroses, com o desenvolvimento da Psicologia Positivista, por exemplo. Várias terapias integrativas trabalham especialmente com crenças limitantes de forma a desbloquear padrões de comportamento, como Psych-K, ThetaHealing, Barras de Access, Respiração Bioflow, entre outras. O trabalho de coaching pode ajudar também a identificar barreiras em sua profissão e lhe ajudar a crescer na direção desejada.

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Um bom caminho é fazer um trabalho de identificação de crenças limitantes. Você pode, por exemplo, anotar ditados e pensamentos que costuma usar e se identifica e que podem ter uma conotação negativa em sua vida. Pensamentos como “Nunca serei bom o suficiente”, “Eu não nasci para ser rico”, “Eu não sou bom com pessoas” e frases como “Pau que nasce torto nunca se endireita” são formas de pensamento que nos congelam, nos aprisionam e nos impedem de pensar adiante. A partir de reconhecer que estes pensamentos fazem parte de seu sistema de crenças, é possível trabalhar para desconstruí-los.

Ao lermos a história bíblica de Jonas, que serviu como simbologia para Maslow cunhar a expressão, aprendemos ainda outra coisa, ao final da história: Um dos fatores que impediu Jonas de cumprir seu destino foi sua própria soberba, seu orgulho de certa forma infantil, de achar que sabia o que era melhor para o povo para o qual deveria pregar. Mais do que o próprio Deus, que lhe pediu a tarefa!

Jonas sabia de sua arrogância, tanto que assume a culpa pela tempestade, e se põe ao sacrifício, uma forma de expiação. Depois, num diálogo com Deus, resmunga sobre o que ele achava que seria certo, e o que acha que está errado, mesmo na atitude de Deus. Que é bastante compassivo e explica, por meio de uma pergunta sutil, se não é Jonas quem está equivocado de se sentir como está.

Quantas vezes isso nos acontece? Em frente ao nosso destino, a nossa tarefa, nós fugimos dela por não a aceitarmos como ela é, como ela se apresenta, mas preferimos fugir para ficarmos agarrados a um ideal do que “deveria” ser o nosso destino. Romantizamos nosso futuro, em devaneios, mas quando o destino realmente nos bate à porta, fugimos como crianças assustadas.

Maslow foi um grande psicólogo americano que durante sua carreira deslocou seu ponto de interesse inicial da Psicologia Experimental, analisando questões de comportamento e a importância da sexualidade no comportamento humano, para a questão da Motivação, estudando as forças que nos impelem ao desenvolvimento. Isso ocorreu após os fatos da 2ª Guerra Mundial, e sua preocupação de que os estudos na área psicanalítica tinham feito pouco para impedir tamanha tragédia. Enquanto presidia a Associação Americana dos Psicólogos, deu o impulso para o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal, aliando saberes de campos diferentes e divulgando o trabalho de pesquisadores que não se encaixavam nas áreas mais conhecidas da Psicologia, como a Psicanálise, a Psicologia Comportamental e a Humanista, que ele ajudou a desenvolver.

Referências

http://www.animaestudosjunguianos.com.br/index.php/br/canal-jung/38/o-complexo-de-jonas

https://www.pensarcontemporaneo.com/abraham-maslow-o-complexo-de-jonas-e-o-medo-da-grandeza/

https://www.bibliaonline.com.br/nvi/jn/1

https://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_de_Jonas

https://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching-e-psicologia/o-que-e-psicologia-positiva/

http://pregacaocrista.com/historia-do-profeta-jonas/

https://paulorogeriodamotta.com.br/complexo-dicionario-junguiano/

O que não é Mindfulness

Mindfulness entrou em voga há algum tempo, e tem sido vista como uma atividade benéfica e acessível para qualquer pessoa. O que de fato é muito bom, mas nem sempre a divulgação acompanha uma base criteriosa de como e porquê fazer uma prática como Mindfulness.

Ainda que suas bases estejam bem estabelecidas e divulgadas e seja possível encontrar inclusive cursos de formação bem estruturados, há uma grande confusão em relação há alguns conceitos que fazem parte da prática.

Eu baseei este artigo neste outro, escrito em inglês, que fala sobre o que não é a prática de Mindfulness, sobre os principais equívocos de quem procura a prática como iniciante.

O objetivo é deixar mais claro algumas questões relativas à prática de Mindfulness, ou Atenção Plena como traduzido em português, e facilitar a compreensão de o que de fato pode se esperar da técnica. Haverá no final do artigo alguns links de referência.

Mindfulness não é Meditação

Esta primeira, que eu resolvi incluir e que não estava na lista original, pode parecer estranha, mas é baseada em dois fatores: A prática da Meditação engloba outras vertentes e objetivos, assim como a prática de Mindfulness engloba outras práticas, que não apenas a Meditação. Embora exista uma convergência entre as duas (existe meditação mindfulness em várias práticas ao redor do mundo) uma não necessariamente é a outra, uma distinção importante. Práticas como a Meditação de Compaixão, ou práticas meditativas de expansão de consciência podem implicar exercícios de visualizações ou estados de consciência que não necessariamente te trazem ao momento presente, com foco e consciência plena. Muito pelo contrário! E isso não é nem bom nem ruim, apenas não é mindfulness.

Há um pensamento de que a prática Mindfulness seria uma forma de meditação secular, ou seja, não religiosa, como as práticas budistas. De fato a prática engloba o exercício da atenção plena, assim como (algumas) práticas budistas. Mas o exercício de atenção plena pode ser realizado em muitas outras atividades e momentos, sempre com o intuito de aumentar nossa percepção do momento presente, com compaixão e sem julgamentos.

“Mindfulness é a simplicidade em si mesmo. Trata-se de parar e estar presente. Isso é tudo”.


Jon Kabat-Zinn

A práticas de atenção plena em tarefas cotidianas, como caminhar, executar uma tarefa manual, ou mesmo se alimentar. Desde que esta atividade seja feita com foco, com estado de presença e compaixão. Aqui tem algumas práticas com instruções.

Mindfulness não é relaxamento

Outro pensamento equivocado é de que para uma prática de atenção plena basta “esvaziar a mente” e relaxar. E que, ao final de uma processo meditativo você estará mais “relax” e de bem com a vida. Será?

Isso obviamente pode acontecer e praticantes relatam que se sentem menos estressados, mais relaxados e com um pensamento mais positivo após as práticas.

Mas este não é o foco per se da prática atenção plena. Uma vez que em mindfulness o objetivo está em manter uma atenção plena no presente – em seus pensamentos, suas sensações no corpo, no ambiente em volta – este exercício pode trazer um certo incômodo, principalmente no início quando ainda não estamos acostumados a realizar este exercício de atenção sem julgamento e sem expectativa. Ao nos darmos conta de certos pensamentos que surgem ao iniciar a prática, ou nos concentramos em algum aspecto do momento presente, podemos experimentar sentimentos de ansiedade, por exemplo, por achar que está fazendo algo errado, ou que não está relaxando (ter uma expectativa irreal para a prática).

Parte desse desconforto é justamente o oposto do que a prática de atenção plena pretende – uma atenção sem julgamentos e de forma compassiva – mas isto leva algum tempo para acontecer. Podem ocorrer também sensações físicas, devido à uma postura estática em práticas de meditação sentadas e estáticas. Em geral, todos os incômodos são passageiros segundo a maioria dos praticantes e não tem um efeito duradouro. Assim, não se preocupe se desconfortos surgirem durante a prática. Pense como uma massagem: Existem práticas que são apenas para fins de relaxamento, e outras que são para fins específicos, de cura ou desbloqueio de tensões, onde é esperado algum grau de desconforto uma vez que estamos trabalhando com questões mais profundas em nosso corpo.

Importante dizer que existe um progama específico que utiliza a técnica mindfulness para a redução de stress, o MBSR – Mindfulness-Based Stress Reduction, criado em 1979 pelo médico americando Jon Kabat-Zinn. Nele o praticamente tem como foco a redução do stress e melhora de qualidade de vida. Mas durante a prática, algum desconforto pode acontecer e é normal, até se compreender melhor os objetivos e dinâmicas da prática.

Mindfulness não é mágica

Stephen Little é um dos grandes divulgadores da prática no Brasil, dando palestras e workshops, incluindocursos pela School of Life, e mantém uma postura crítica. Ele gosta de usar o termo McMindfulness, criado pelo Dr. Miles Neale, para falar sobre a banalização da prática de Atenção Plena, como se ela fosse uma espécie de fast food terapêutica.


Uma prática que, originalmente no mundo budista, era ensinado para pessoas corajosas que quiserem aprofundar a sua vida ética e espiritual, agora está sendo reduzida em uma técnica superficial que promete muitos benefícios em prazos curtos. Li uns artigos na mídia recentemente que descrevem as características de uma pessoa que pratica mindfulness. Nossa! Nas listas incríveis de habilidades, só faltou “conseguir andar na água”!

Stephen Little

É muito comum ler artigos que dizem provar que a prática de mindfulness alivia o stress, dores crônicas, acalma a mente, aumenta a empatia, enfim: cura o câncer e faz levitar (essa parte eu inventei). Estas afirmações não vem sem controvérsias. E embora realmente existam todos os benefícios sendo estudados – e relatados – uma coisa que em geral não é tão falada em artigos de blogs é: Você tem que praticar frequentemente para o efeito poder ser possível. E não só num workshop de final de semana. A prática colhe os benefícios num exercício constante, de preferência diário, de atividade consciente. É a mesma coisa com musculação. Você realmente pode emagrecer e ficar mais forte. Mas isso não vai ocorrer se você fizer uma vez por mês.

Mindfulness não é um refúgio

Pode parecer que sentar para meditar ou se concentrar num ambiente calmo, tranquilo, silencioso e agradável é uma espécie de refúgio, de uma vida contemporânea carregada por múltiplos estímulos, um senso de caos e de sobrecarga de tarefas. Para alguns pode até parecer difícil parar para isso, mesmo que por 10 minutos, sendo que “há tanta coisa a ser feita”.

Mas se a atividade parece uma promessa de paz e tranquilidade, a prática pode ser outra. Prestar atenção, e focar em seu momento presente, pode ser desconcertante se o que vai aparecendo são sensações e pensamentos que você justamente queria um escape para não pensar neles.

Mindfulness provê um método, não um refúgio, para explorar a dor e o sofrimento com aceitação, curiosidade e equilíbrio emocional

Nicholas T. Van Dam

Para algumas pessoas que estão em estados de ansiedade e agitação constante parar, mesmo que por dez minutos e se concentrar, pode ser uma experiência desafiadora, já que estão acostumadas justamente a este ritmo caótico e de estímulos constantes. A prática de atenção sem julgamentos e expectativas é possível, mas necessita de um tempo para acontecer de forma plena.

Mindfulness não é uma panacéia.

Embora os promissores efeitos positivos da prática, ela não serve como um substituto para a medicina tradicional, ou mesmo para um processo terapêutico convencional caso seja o que você procura – ou precisa. É sempre recomendado você conversar com seu médico ou terapeuta para saber se a prática é adequada, ou mesmo se ela vai lhe trazer os efeitos desejados.

Quando for procurar um local ou grupo para iniciar na prática, é importante pesquisar sobre ele antes de entrar. Perguntas como quem criou o programa que você vai entrar, se o instrutor é certificado por alguma escola ou instituto, e se ele pratica frequentemente são questões que podem ser rapidamente resolvidas e farão uma diferença no resultado final de seu caminho.

Em São Paulo, a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) criou um programa de aprendizado e outro para formação de instrutores de Mindfulness, com o apoio da Universidade de Oxford. É um programa sólido, de 8 semanas para um início de prática – necessário inclusive para você poder se inscrever para um curso de formação.

Referências:

https://theconversation.com/we-dont-yet-fully-understand-what-mindfulness-is-but-this-is-what-its-not-110698

https://www.iniciativamindfulness.com.br/oque

https://www.mindfulnessbrasil.com/blog/efeitos-indesejados-da-meditacao/

https://www.theschooloflife.com/saopaulo/eventos/aula-especial/mindfulness-em-momentos-de-incerteza/

https://papodehomem.com.br/stephen-little-no-mundo-ocidental-aprendemos-uma-forma-de-autoconfianca-que-traz-um-buraco-emocional/

https://www.mindfulnessbrasil.com/

Clique para acessar o Antes%20de%20iniciar_Orientac%CC%A7o%CC%83es%20Gerais.pdf

https://cristianethiel.com.br/meditacao-mindfulness-8-exercicios-rapidos-que-cabem-facilmente-em-seu-dia/

Entrevista com Fanny Van Laere

Decidi transcrever esta entrevista que Fanny Van Laere, fundadora do Instituto Internacional Bioflow, fez em uma de suas imersões para JJ Tebet, do programa “Viver o Fluxo”. Acredito que os pontos chave da técnica de Respiração Bioflow estão contidas aqui. O vídeo original tem mais de vinte minutos de duração, e achei que uma transcrição — tomando algumas liberdades para traduzir algumas expressões que são mezzo em português, mezzo em espanhol pela Fanny — seria interessante leitura. Também tomei a liberdade de acrescentar algumas pontuações que fazem mais sentido para um conteúdo escrito. O link para o vídeo original encontra-se aqui. Boa leitura!

Olá eu sou JJ Tebet do “Vivendo o Fluxo”. No vídeo de hoje falaremos sobre renascimento Bioflow. Para quem não conhece, Renascimento Bioflow é uma técnica de respiração que permite a superação de traumas e bloqueios emocionais. Mas para falar sobre isso eu tenho a honra de apresentar Fanny Van Laere. É um prazer te receber aqui!

— É um prazer para mim também.

Muito obrigado por abrir um espaço na sua agenda durante o Retiro. A gente sabe como é difícil separar um tempo num momento de tanta dedicação, de tantas pessoas envolvidas. Muito obrigado mesmo!

— É um prazer.

Gostaria de começar esse assunto apresentando para as pessoas o que é o renascimento… Como é que a gente poderia explicar em algumas palavras o que seria o renascimento, essa técnica tão transformadora?

— O Renascimento é uma técnica de respiração para desbloquear os bloqueios emocionais, que na verdade estão refletidos no mecanismo respiratório. Quando somos pequenos todos nós respiramos com toda a nossa capacidade respiratória, só que quando começamos a acumular bloqueios emocionais, quando começamos a sentir dor em nossas vidas e não sabemos — por falta de apoio — como lidar com isso quando somos crianças, o jeito de reprimir é inibindo a respiração para não sentir. Assim sentimos menos, mas fica um bloqueio no mecanismo respiratório e fica um distúrbio de respiração que depois na vida adulta dará problemas emocionais e problemas de saúde.

Então essa técnica de Renascimento Bioflow é uma técnica que ajuda a desbloquear o mecanismo respiratório o que significa muito mais que simplesmente ter mais saúde por respirar melhor. Também significa que a gente recupera a liberdade emocional e uma conexão com a nossa verdadeira natureza que está dentro de nós.

E essa sistemática de criar bloqueios a partir das nossas experiências, ela começa muito cedo, até mesmo antes do nascimento, e o momento nascimento é de uma grande importância. Como é que o renascimento enxerga isso nessa questão do nascimento na vida das pessoas?

— O nascimento é também nossa primeira respiração. É um momento muito interessante porque é nossa primeira experiência social, porque é a primeira vez que nos encontramos com pessoas fora da barriga (da mãe). Mas também é a primeira experiência de solidão porque o cordão umbilical vai ser cortado e ficamos separados da mãe.

Então a primeira respiração são as primeiras impressões de estar em um corpo físico fora do útero e no universo. Essas primeiras impressões deste mundo vão ficar gravadas no corpo através da primeira respiração, e como esta é a primeira experiência fora do útero, se for uma experiência amorosa ou se for uma experiência com violência, qual foi a primeira mão que nos trouxe — foi a mão da mãe ou do pai, ou a mão de um desconhecido — com que tipo de emoção ou de energia, tudo isso vai ficar gravado como a primeira experiência de vida. E através desta primeira respiração temos o registro se este universo é um lugar de amor, um lugar onde me sinto bem recebida bem-vinda ou não, ao contrário. Então a primeira experiência vai condicionar muito nossa interpretação da vida posteriormente

Podemos dizer que estas experiências, esta primeira experiência, reflete inclusive na vida adulta?

— Sim, claro, porque é uma memória, é uma memória inconsciente então a gente não lembra, mas toda a interpretação que a gente faz do mundo e também o tipo de experiências que atraímos estão condicionadas por nosso inconsciente. Quanto mais antiga é esta experiência — e com certeza o nosso nascimento é uma das memórias mais antigas — claro que também temos todas as experiências durante a gravidez né, mas quanto mais antiga a experiência mais impacto vai ter sobre nós. Porque foi uma das primeiras experiências.

Então a partir do momento que a pessoa tem contato com o Renascimento e passa pelas primeiras sessões ela passa a desbloquear o mecanismo?

— Exato

Então como é que a gente pode explicar os benefícios do renascimento em relação ao relacionamento com as pessoas?

— O jeito de me relacionar com as outras pessoas é na realidade um espelho de como eu me relaciono comigo mesma. O problema é que a maioria das pessoas não têm suficiente autoconhecimento. Então realmente para se ter um relacionamento saudável a base é ser consciente das próprias emoções. É todo um trabalho de autoconhecimento, estar em contato com as emoções, saber reconhecer essas emoções, ficar em contato com elas. A maioria das pessoas estão identificadas com sua mente então não estão conscientes de suas emoções e de como isso estão criando e construindo suas vidas e o seu relacionamento com outras pessoas. A partir do momento que eu estou consciente de minhas emoções e estou em contato com elas, num segundo momento eu vou poder me responsabilizar por estas emoções em vez de projetar estas emoções em outras pessoas e nas circunstâncias da minha vida.

O que fazem a maioria das pessoas hoje em nossa sociedade na qual a gente vive — e a maioria das pessoas não são conscientes de suas emoções por falta de autoconhecimento — é que projetam essas emoções em outras pessoas e culpam as pessoas e as circunstâncias. De alguma forma, é como elas se sentem vítimas. E aí perdem o poder de criar relacionamentos amorosos, mais conscientes, de mais colaboração. E repetem experiências de dominação / submissão inconsciente, repetem condicionamentos sociais. Quando a gente não é consciente repete os padrões inconscientes que aprendemos durante nossas vidas.

Agora… comumente as pessoas dizem que tem traumas que as pessoas nem lembram… “Poxa eu nem sei o que aconteceu na minha infância…” e a partir do momento que as pessoas têm as sessões Renascimento, isso começa a vir à tona. Isto com certeza desperta um medo, um receio das pessoas em relação a isso. Como é que a gente pode falar para pessoa que não conhece isso, Como Renascimento lida com esse fato?

— Em geral desperta um medo pois as pessoas acreditam que para superar uma lembrança, uma memória traumática, tem que passar de novo por ela. Mas a base da psicologia espiritual não é essa. Não precisamos passar de novo por isto, porque vamos primeiro reforçar a autoestima e encontrar ferramentas de poder pessoal. No momento em que a pessoa se encontra com a memória celular destes traumas ela vai poder olhar isso com desapego, e com os recursos que precisa para solucionar.

Inclusive vai ter um aprendizado muito interessante, muito positivo destas experiências que foram traumáticas quando aconteceram por uma falta de apoio, na verdade.

Então quando passamos por essas experiências com apoio, com amor, com desapego, com consciência, não é doloroso, pelo contrário, é um alívio e uma alegria.

Falando em alegria, a felicidade é um estado que todas as pessoas buscam e muitas vezes a felicidade pode ser uma coisa efêmera, rasteira — e acaba sendo — vivendo só aquele momento não, uma Felicidade Plena. Uma vez desbloqueados traumas, esses bloqueios… essa Felicidade Plena Pode surgir, não?

— Com certeza. Para mim a felicidade é o resultado de três coisas: A primeira, já falamos um pouco disso e é a base… na verdade as outras são consequências desta primeira. Então a primeira é se responsabilizar por suas emoções e fazer um trabalho de cura dos traumas e das emoções negativas que ficaram bloqueadas. A partir daí a vida começa a fluir. Essa é a primeira condição. É esse trabalho interior que como resultado vai dar felicidade para as pessoas. Depois, como resultado disso, quando a pessoa está mais consciente de suas emoções e está fazendo esse trabalho de cura interior então começa de forma espontânea, natural, a conectar com sua própria essência. Sua própria natureza, a vida que está dentro de nós, a inteligência que está dentro de nós.

Como resultado disso vai encontrar um sentido mais profundo para a vida. Não é possível encontrar a felicidade plena sem encontrar um sentido profundo para a vida, e encontrar seu propósito de vida. Quando a pessoa já tem uma clareza emocional maior, começa a ter mais clareza sobre o porquê nasceu, que tipo de trabalho poder fazer para ser feliz e contribuir para que esse mundo seja melhor.

Isso para mim é a segunda causa de felicidade, estar em seu propósito de vida, encontrar um sentido mais profundo da vida.

E como resultado disso, e isso seria a terceira causa de felicidade, a gente fortalece emoções positivas em sua vida diária. Encontrar a motivação, encontrar alegria e encontrar o jeito natural, como resultado desse trabalho, de desfrutar plenamente do aqui agora e de desfrutar das pequenas coisas da vida. Porque na realidade o que trás felicidade para a gente não são coisas complicadas, mas simplesmente desfrutar cada momento e dar um sentido profundo para as coisas. É o fortalecimento de esta consciência de todo o amor que existe na vida, o fortalecimento de emoções positivas dentro de mim mesmo. Como eu falava, é o resultado desse trabalho de eliminar os traumas e as emoções negativas nascidas de experiências de dor.

Na visão do Renascimento Bioflow, como obtemos a prosperidade?

— A prosperidade é a conexão com quem realmente somos, então, é um estado natural. De fato, todos nós durante a gravidez não tínhamos que fazer nada, recebemos todo o alimento e energia que precisamos para desenvolver nosso corpo. Existe uma inteligência universal, uma Inteligência Divina, como um programa dentro de nós que faz com que as coisas funcionem. O problema é que nos desconectarmos desta inteligência que está dentro de nós e aí começam os problemas, que poderíamos chamar de escassez. Na realidade a escassez — de felicidade, de abundância, a falta de confiança na Vida — é devida a esta desconexão da vida dentro de nós, com quem somos realmente.

Minha visão da prosperidade é reconectar com a Vida que sempre está fluindo e sempre está nos apoiando, Quando eu supero minhas crenças de escassez inconscientes posso fluir de novo com a Vida. Para mim, prosperidade é poder ter tudo que eu preciso para poder estar em meu propósito de vida e de um jeito fácil e confortável poder dar a mensagem que eu tenho que dar para o mundo. Tenho certeza que cada pessoa tem um propósito de vida, nasceu por alguma razão, e tem uma contribuição importante para fazer para todos nós então a prosperidade é ter os recursos tanto interiores como exteriores — como o dinheiro se é preciso — para poder fazer esse trabalho que contribuirá e apoiará a evolução da consciência nesse planeta. Algumas pessoas, para seu propósito de vida, precisam de poucos meios materiais e pouco dinheiro e outras precisarão de muito, então todos nós merecemos ter todos os recursos. A prosperidade é muito mais que dinheiro, o dinheiro é uma pequena parte, mas às vezes precisamos de grandes quantidades de dinheiro para poder ajudar a mais pessoas neste planeta. Então dependendo do propósito de vida nós vamos precisar de umas coisas ou de outras, aí já depende do caminho de cada um.

E como a pessoa pode conhecer como funciona o Renascimento Bioflow?

— Pode fazer sessões individuais, com algum profissional formado por nossa escola, são sessões de aproximadamente duas horas, duas horas e meia. E também para as pessoas que querem aprofundar mais e mergulhar mais em seu processo pessoal, ai é muito recomendado fazer retiros de uma semana. Temos três retiros diferentes. Em todos os módulos praticamos sessões de respiração todos os dias e a pessoa aprende toda técnica, mas cada módulo está focado em um tema específico. Temos um módulo de roteiro de nascimento, tem outro módulo de cura da criança interior e temos um módulo de propósito de vida. E para as pessoas que já fizeram esses três módulos e conhecem bem a técnica e fizeram todo esse processo — e que muda a vida da gente, porque é um programa bem profundo.

Estes três módulos podem ser feitos em ordem diferente. Para a pessoa que quer fazer a formação profissional tem que passar pelos três módulos para ter o diploma profissional e poder ser renascedor. Mas muitas pessoas fazem também este programa só para seu desenvolvimento pessoal e felicidade em suas vidas.

Quem costuma frequentar mais os retiros: homens ou mulheres?

— Os dois, os dois… um tempo atrás tínhamos mais mulheres mas agora os homens também estão começando a vir. Porque é um despertar da consciência geral, e os homens estão cada vez mais conscientes, cada vez num poder mais amoroso, e cada vez mais o homem é consciente de que quer ter melhores relacionamentos, de que é possível ter um trabalho com menos esforço. Na nossa sociedade existe muita dor com o masculino, pois o grau de exigência que a sociedade tem… o homem sempre teve um papel de ser o provedor da família, era mal visto ele estar em contato com as suas emoções…. ou inclusive a paternidade consciente. E graças à Deus tudo isto está mudando, são cada vez mais homens que querem encontrar uma masculinidade real, consciente. não algo construído pela sociedade, que é algo artificial, e que na verdade cria muito sofrimento, e é um tipo de masculinidade que está muito relacionada com a exigência e a violência. Graças a Deus temos cada vez mais homens que são conscientes, bem masculinos que querem se aprofundar mais em sua capacidade de serem homens conscientes e desenvolver outro tipo de vida mais feliz e mais saudável.

Inclusive eu posso testemunhar isso pois eu já fiz os retiros, já participei dos módulos e realmente o transformador indico para qualquer homem.

Fanny, em breve seu livro vai ser lançado no Brasil, um livro sobre o poder feminino. Pode falar um pouco sobre ele inclusive pegando o gancho nessa questão da masculinidade na sociedade?

— Eu escrevi um livro, alguns anos atrás em espanhol, chamado “O Ressurgir do Feminino” que é na realidade o ressurgir da consciência das emoções, e de um poder mais amoroso. E eu sei que no Brasil poucas mulheres têm a oportunidade de se desenvolver, de se expressar, ainda estamos num mundo onde existe muito machismo. Então, a mulher tem muitas feridas com isso, existem muitos abusos também. Todos estes condicionamentos sociais, fizeram com que a mulher perdesse a fé em seu próprio poder. Em Bioflow acreditamos que qualquer mulher pode ter a vida que realmente deseja, pode tomar as rédeas de sua vida, ser uma mulher poderosa — com amor — e ser uma mulher livre. Temos todo um trabalho e em meu livro “O Ressurgir do Feminino” falo disso. De como as mulheres, entre nós, nos apoiamos, e os homens também como apoiar as mulheres, para se tornar mais livres, mais independentes, e ter mais força, mais autoestima e obviamente isto não beneficia só as mulheres, isso beneficia também os homens, porque aí vamos ter relacionamentos muito mais harmoniosos, e muito mais amorosos. Tanto os homens quanto as mulheres curam suas feridas e encontram a paz dentro deles.

Você já se sentiu mal por estar bem?

Parece uma pergunta estranha, mas não é. Infelizmente.

Numa sociedade em que a procura pelo bem estar e a felicidade parece estar em cada canto, se sentir mal por estar se sentindo bem pode parecer não só uma contradição, mas um absurdo. Entretanto, algumas pessoas passam por isto, em seus grupos de amigos e famílias. Como?

Estar bem é, antes de tudo, um estado de equilíbrio. Um sentimento de conforto emocional onde apesar das adversidades não estamos de forma demasiada identificados com um estado emocional negativo, como raiva ou ansiedade, ou com algum tipo de desconforto fisiológico: dores, tensões, etc.

Por exemplo, a definição utilizada em arquitetura ou engenharia para definir o que significa conforto ambiental é: O estado do ambiente em que o corpo precisa fazer o mínimo esforço, ou nenhum, para se sentir adaptado. Ou seja, a temperatura é amena, assim como a iluminação, não causando nenhuma sobrecompensação em nossos sistemas de manutenção de vida para se adaptar ao espaço em nosso volta. E cada pessoa tem um ponto ideal de conforto, sendo que para algumas pessoas vão preferir ambientes um pouco mais frios, ou mais iluminados. É importante perceber qual é o seu ponto de conforto, e como ele difere de outras pessoas. E como isso se aplica ao nosso estado emocional?

Poderíamos dizer que se sentir bem, ou confortável, do ponto de vista emocional é também um estado de equilíbrio com o meio ambiente mas mais importante que isso, é um estado de equilíbrio interno. Não nos sentimos levados a expressar nossas dores internas para o ambiente — projeções — nem nos sentimos em necessidade que o nosso meio nos provenha com nossas carências. Em suma, é um estado em que nada nos falta, e nos sentimos em paz conosco.

Isso não significa ausência de problemas, ou mesmo de necessidades. Significa sim, que apesar de nossos problemas e necessidades nós sentimos que são desafios que estão ao nosso alcance, que damos conta de nossa vida, e que nos sentimos apoiados e estruturados para cumprir nossas tarefas.

E quando atingimos este estado, porque é que nos sentiríamos mal, se ele parece um estado tão bom?

Quando isso acontece, alguns pontos devem ser observados.

O primeiro, interno, é um sistema de crenças que pode estar autossabotando você. Há uma série de crenças que trabalham de forma inconsciente e que podem ter sido registrados em nosso corpo e em nossa mente muito antes de nós termos consciência disso — ou de como lidar com elas. Alguns exemplos de crenças são “Eu não mereço ter sucesso”, ou “Dinheiro é sujo” — esta é particularmente importante, pois causa uma má relação com o dinheiro, e com a prosperidade. Se eu acho que o dinheiro é sujo, ou se quem ganhou muito dinheiro o ganhou de forma injusta, como é que eu vou ficar bem se eu começar a ganhar dinheiro?

A pressão do ambiente familiar, de forma tóxica, também pode influenciar. Imagine que você vem de uma família de poucos recursos materiais e de repente começa a ir bem na escola, ou no trabalho. Isso gera um sentimento de orgulho por parte dos familiares, mas também pode gerar um sentimento averso por outros, acostumados a escassez ou ao insucesso. Inveja, ciúmes — mesmo raiva — podem ser sentimentos que outros membros da família podem apresentar — e projetar em você — de forma inconsciente ou sem controle. Pessoas que ainda não tem um bom equilíbrio emocional podem se sentir afetadas pelo seu sucesso e bem estar, de forma a projetar suas próprias insatisfações, o que pode nos colocar num estado de nos sentirmos culpados pela infelicidade alheia.

Este mesmo sentimento pode ocorrer com amigos próximos, por contaminação. Imagine que você chega num encontro de amigos e todos começam a reclamar da vida. Para alguns é a saúde, relatando um carrossel de dores e sintomas. Para outros, é a situação econômica ou política do país. E para você, que está bem, pode parecer estranho dizer em alto e bom som, “Bem, eu não estou sofrendo de nada, estou super bem e tranquilo!”. Pode lhe soar desconfortável, e até mesmo “agressivo” para seus amigos. Como se a sua felicidade fosse ruim para os outros. O resultado? Nos calamos, ou começamos a contar coisas que diminuem o nosso estado, apenas para ter aquela sensação de “pertencimento” ao grupo — que neste caso é muito tóxica. Pior, podemos começar a nos sentir errados por nos sentirmos bem, como se não estivéssemos vendo tudo o que deveríamos ver. Se isso acontece, o que isso causa é uma diminuição em nossa confiança em nossa própria intuição, em nossos sentimentos e sensações. Substituímos o nosso próprio saber pelo do outro, que nunca vai estar em nossa pele para realmente saber o que de fato precisamos, naquele momento.

E como cuidamos para que a nossa sensação de bem estar permaneça?

Vimos três formas em que nosso bem estar pode ser minado: projeções, contaminações e crenças.

As crenças devem ser trabalhadas de forma a melhorar este “ponto cego” em nossa auto estima. Pode ser feito um trabalho de afirmações positivas, como o demonstrado por Louise Hay, e até um trabalho externo com o uso de ThetaHealing₢, PNL ou Psych-K, por exemplo. Ao trabalhar o nosso sistema de crenças, sozinhos ou com o uso de outros recursos como terapias, também melhoramos a nossa resiliência e resistência à contaminações e a exposição de sentimentos tóxicos externos.

Há uma outra frente a ser investigada, que é a identificação ou fidelidade a determinado grupo, sistema ou família. A Constelação Familiar investiga a fundo laços e emaranhamentos que podem nos fazer sentir como se “não pertencêssemos” ao nosso grupo de origem se começamos a nos destacar, ou nos sentirmos bem — caso o grupo tenha um sentimento base negativo. Um trabalho com Constelação é muito importante quando identificamos isto, pois isso nos permite honrar nossas origens e mesmo assim seguir em frente com nossa vida de forma saudável.

E você? Já se sentiu assim? Escreva o que acha no espaço de comentários abaixo, e como lidou com isso. Ou entre em contato em meu site para me contar o que achou do texto!

Como lidar com emoções difíceis?

Nós sentimos emoções a todo momento, mesmo sem termos total consciência disso. Porém, algumas emoções parecem nos tomar de assalto e, fugindo ao nosso controle, dão aquela sensação de que fomos inundados por ela e nada mais resta a não ser nos entregar a este “tsunami emocional” que chega sem aviso e nos tira do eixo.

Emoções difíceis, ou desafiadoras, são isso: são emoções que temos dificuldade em lidar sozinhos, nos tirando de nosso eixo e que nos impedem de continuar realizando nossas tarefas cotidianas. Ou aquela emoção que sentimos, bem no fundo, e que nos impede mesmo de começar algo que deveríamos fazer, fora de nosso controle.

E como podemos lidar com elas? O controle emocional necessário para lidar contra essa sensação aparentemente incontrolável, seja um medo paralisador ou uma raiva fora de proporção, leva alguma prática para acontecer no momento em que esta emoção começa. Esta prática se inicia com um passo a passo simples, feito com um mínimo de centramento para que possamos ter consciência dos eventos e assim irmos aumentando nossa resiliência, ou seja, nossa resistência emocional que vai bloquear ações automáticas, como paralisia ou explosões sentimentais.

O primeiro passo é: Respire.

A respiração é um dos poucos subsistemas de nosso Sistema Nervoso Autônomo — responsável por controlar nossas funções vitais — que podemos exercer um razoável controle consciente. É difícil controlarmos os nossos batimentos cardíacos, ou a liberação de certos hormônios. Mas a respiração, que funciona sozinha a maior parte do tempo sem termos que nos preocupar com ela, conseguimos alterar de forma atenta, relaxando nossa exalação ou aumentando nossa inspiração, por exemplo.

E é comprovado cientificamente, através de estudos diversos, o papel que a respiração exerce sobre outros subsistemas, como o circulatório (alterando indiretamente o nosso batimento cardíaco) ou na liberação de hormônios e outras substâncias que regulam o nosso corpo.

Assim, uma respiração mais relaxada vai nos ajudar a relaxar o corpo todo e nos tirar de um estado de tensão, onde fica difícil avaliar de forma consciente e centrada o nosso estado emocional. Basta prestar atenção em como estamos respirando e tentar uma inspiração mais profunda da que fazemos no momento em que nos sentimos mais tensos, e uma exalação mais “solta” — pense naquele alívio que sentimos quando nos jogamos no sofá quando chegamos em casa e você vai ter um bom exemplo de uma exalação bem solta e relaxada.

O segundo passo é reconhecer e acolher sua emoção. Após nos tranquilizarmos através de uma respiração consciente, devemos reconhecer que aquela emoção está ali, não entrando em negação do que sentimos. Muita pessoas tem dificuldade em admitir que estão com raiva, por exemplo. Assim acabam reprimindo seus sentimentos negativos, o que faz com que ele se “acumulem” em nosso incosciente ficando represados. Esta repressão é um dos fatores que geram o tal “tsunami” quando a barragem estoura e nós perdemos nosso controle. Acolher este sentimento significa apenas reconhecer que ele tem um lugar, um motivo de ser em nossa psiquê. Assim fica mais fácil trabalhar com ele, ao invés de negar que o problema exista.

Para outras pessoas o problema pode ser o inverso: A pessoa já sabe que tem raiva, mas num ponto de desequilíbrio, chegando a se identificar totalmente com ela. Quantas pessoas conhecemos que costumam dizer “Eu sou uma pessoa nervosa”? Há nesta frase um grau enorme de identificação com as próprias emoções, ao ponto da pessoa afirmar “eu sou esta emoção”. A verdade é que não somos. Reconhecer que as temos também significa reconhecer que elas acontecem em nosso corpo, mas elas não nos definem como pessoas. Temos emoções, não somos elas, é algo importante para discernir.

Após reconhecer que sua existência e dar a ela um lugar em nossa vida, precisamos “nomear”, ou seja, identificar esta emoção. É raiva? É medo? É irritação? Algumas pessoas estão tão desconectadas que sequer sabem o que sentem, e depois que passam por um surto emocional dizem: “Sei lá, não sei o que aconteceu”. Precisamos identificar claramente o que se passa, e isso é feito com calma e com atenção, principalmente ao nosso corpo. Nossas emoções se manifestam através de uma intricada rede de reações fisiológicas. Tensões ou relaxamentos localizados, tremores, aumento ou diminuição de temperatura, dores, formigamentos. Sem contar com os processos que não percebemos conscientemente, como liberação de hormônios. Ajuda muito se além de nomear a emoção nós damos sobrenome — e endereço — para ela. “Eu sinto raiva de meu chefe quando ele me julga assim. Sinto isso no meu corpo, que começa a tremer e suar e minha cabeça esquenta!”. Isso é um ótimo começo.

Após reconhecermos com quem estamos lidando — no exemplo, a raiva do seu chefe — é importante checarmos algumas coisas. A primeira é: Sou só eu que tenho esta resposta emocional ou mais pessoas também tem? Compartilhe este questionamento com alguém de sua confiança, ou que esteja passando pela mesma situação. Isso tem várias funções: Nos ajuda a dividir um fardo, aliviando aquele sentimento de que estamos passando por isso sozinhos, e coloca uma outra perspectiva, de fora, sobre o problema. Se só nós sentimos isso, podemos entender com uma visão de fora quais são as nossa reações que muitas vezes não percebemos. Se é um sentimento comum a outras pessoas, pode nos ajudar a juntos descobrir quais são os gatilhos que disparam aquele sentimento incontrolável, e em que pontos da nossa história temos ressonância com outras pessoas. A raiva ao julgamento pode vir de muito antes, de uma ferida feita na infância quando enfrentamos o julgamento de nossos pais. Outra pessoa pode ter uma ferida parecida, mas causada pelo julgamento na escola. Falar sobre isso nos ajuda a entender de onde vem estes sentimentos difíceis e incontroláveis, e traçar paralelos que nos mostram caminhos a seguir para cuidar destes sentimentos de forma mais sadia.

Após nos equilibrarmos, acolhermos, reconhecermos, identificarmos e compartilharmos, o que nos resta fazer? Agir!

Agir no caso significa que depois de encontrarmos o gatilho que dispara esta emoção difícil de ser controlada devemos criar estratégias para que ela possa ser expressa de uma forma mais saudável. Saudável para nós e para o nosso entorno, já que — por exemplo — sair quebrando tudo e gritando com todos não parece ser a solução mais equilibrada a ser feita.

O que está em seu controle, é a primeira questão a ser respondida agora. De fato, algumas coisas não estão ao nosso alcance (o comportamento do nosso chefe) mas é possível perceber o que nós podemos controlar, como a nossa reação a ela. O que gostaríamos de mudar? Como isso pode ser feito?

Um exemplo de atitude que me ajudou em casos em que a resposta emocional era causada por outra pessoa foi a minha conscientização de que as minhas respostas emocionais vinham de dores passadas, de feridas que há muito tinham sido geradas. Isso me deu a percepção de que a forma como eu reagia, tinha como base traumas ou questões de quando eu era uma criança, sem consciência o suficiente para lidar com aquela situação. Esta perspectiva me fez enxergar que não só eu, mas todas as pessoas reagem da mesma forma. Isso criou empatia, e mesmo eu não gostando de certas atitudes, eu tenho uma consciência de que aquela reação atual vem de questões muito antigas em outras pessoas também, quando elas também não tinha consciência. E assim, através da empatia, eu me coloco no lugar do outro, e isso me ajuda a não “estourar” com a outra pessoa e poder me comunicar melhor sobre o ocorrido.

Sempre que eu tomo uma atitude impensada, e que gera algum tipo de problema, eu procuro fazer este caminho relatado, com calma, para perceber a real origem daquela emoção. Eu fico com raiva porque o meu chefe me julga, ou é porque eu me sinto triste quando me sinto julgado pois isso me remete a quando eu fui julgado por meus pais quando eu era pequeno? Isso é bom, pois tira da pessoa atual o peso de ser a causa das minhas dores. Percebemos que a causa não é ela, e sim uma dor interna, a qual sem um acesso consciente eu não tinha como controlar.

Percebendo a real causa, fica mais fácil ver que os gatilhos que disparam os nossos “tsunamis emocionais” não são o real motivo dessas emoções, e nos levam a um caminho para cuidar e tratar as reais feridas, seja através de uma terapia ou um exercício de auto cura e autoconhecimento que vão aumentar a nossa resiliência. O método de Respiração Bioflow é excelente como exercício de percepção e alinhamento emocional!

E assim deixamos de querer construir barreiras mais fortes e rígidas contra estas ondas gigantes, e vemos que aprender a nadar pode ser mais fácil — e saudável — para lidarmos com nossas emoções desafiadoras.

Afinal, o que é a Respiração Bioflow?

A Respiração Bioflow é uma técnica de transformação pessoal desenvolvida pela francesa Fanny Van Laere a partir de suas vivências e experiências com técnicas de autoconhecimento, em particular com o acompanhamento e conhecimento do trabalho do criador da Respiração de Renascimento — Rebirthing — Leonard Orr.

A partir do trabalho de Leonard Orr outras vertentes da Respiração de Renascimento foram se derivando, com ênfase em um ou outro aspecto — técnico ou espiritual — em relação ao processo e metodologia da prática. Também neste grupo de terapias que usam a respiração como meio para se alcançar o autoconhecimento, ou um processo de cura emocional (e muitas vezes, física) podemos citar os trabalhos de Stanislav Grof com a Respiração Holotrópica e suas vertentes.

Nenhum destes trabalhos respiratórios é, no entanto, novidade no Oriente. Técnicas de respiração como pranayamas na Yoga já são utilizadas com finalidades similares há milênios, por exemplo.

Ao trabalhar durante mais de 20 anos com Orr, Fanny desenvolveu um olhar peculiar sobre a técnica de Renascimento, sobretudo sobre as questões dos bloqueios e distúrbios causados por vivências passadas no aparelho respiratório e a necessidade de uma respiração consciente e conectada. A partir de suas observações e análises, foi aos poucos desenvolvendo uma metodologia que posteriormente se desenvolveu no Instituto Bioflow

Através de sessões onde se aprende a respirar de forma conectada e consciente podemos observar de forma atenta os registros das memórias que governam nossa vida de forma subconsciente. Desta forma, temos a oportunidade de rever o nosso comportamento inconsciente e escolher um caminho melhor e mais saudável para nossas vidas!

Com um protocolo estruturado de como e porquê corrigir tais distúrbios, ela vem formando profissionais que vão atuar na melhoria da qualidade de vida de todos os interessados, ministrando workshops e divulgando a técnica, através de vídeos, textos e livros.

Conforme presente no website do Instituto, os benefícios da técnica Bioflow são:

  • Crescimento pessoal
  • Maior consciência de atitudes e emoções
  • Regularização das funções orgânicas
  • Aumento da determinação e força de vontade para a tomada de decisões
  • Elevação da felicidade espontânea interna
  • Aumento da energia corporal
  • Ajuda a lidar com traumas e bloqueios emocionais
  • Promove desbloqueios energéticos inconscientes relativos à abundância e prosperidade

Para saber mais, visite o site do Instituto Internacional Bioflow, ou clique aqui e agende a sua sessão!