Segundo a OPAS, a Organização Pan-americana da Saúde, A cada três mortes de pessoas adultas no Brasil, duas são de homens. No Brasil os homens vivem, em média, sete anos menos do que as mulheres e têm mais doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol e pressão arterial mais elevadas. São também os que mais se suicidam. São dados simples e diretos, que denotam que a saúde masculina, em geral, não vai bem.
Numa busca rápida encontramos dezenas ou mesmo centenas de bons artigos explicando como ser mais saudável, como comer ou dormir melhor, fazer mais exercícios para, sendo mais saudável, viver mais e – principalmente – melhor. Mesmo com tanta informação, tantos métodos e maneiras diferentes de se conseguir este objetivo, nós vemos pessoas que ainda lutam em iniciar um programa de atividades físicas, ou uma dieta mais balanceada. Porquê?
Um dos aspectos que podem levar alguém, em especial os homens, a não mudar um comportamento prejudicial a sua própria saúde é o aspecto emocional, ou melhor, a sua saúde emocional. Como terapeuta, reconheço o papel fundamental que as emoções têm de interferir, para o bem e para o mal, na mudança e aquisição de comportamentos que nos levam a uma vida mais saudável
Sempre dizemos “preciso comer melhor” ou “eu preciso fazer exercícios” mas quase nunca nós dizemos “Eu preciso ter melhores pensamentos” ou “Eu preciso cuidar de como eu me sinto”. Os homens, acostumados por condicionamento familiar ou social a esconder e não demonstrar suas emoções e vulnerabilidades, menos ainda. Por conceitos distorcidos e nocivos do que seria um ideal de masculinidade e do que é ser Homem, acabamos cheios de crenças de que “sentir é coisa pra mulher”, “homem não chora”, “essa história de se emocionar é bobagem, tenho tudo sobre controle”. Tem mesmo?
O que vemos é o contrário. Homens dentro do que hoje chamamos de masculinidade tóxica em comportamentos auto-destrutivos, colocando a sua vida e a de outros em perigo. Tendo surtos violentos no trânsito, onde descarregam a pressão acumulada e projetam em outras pessoas. Agressões incontroladas, incitação à violência e uma visão distorcida sobre como tratar os outros. Parece tudo, menos controlado. Ao contrário de não termos emoções vemos que temos sim muitas mas que são suprimidas, reprimidas e que quando liberadas, de uma vez e sem consciência, tendem a gerar um estrago.
Num workshop ministrado pela coach Tania Mujica, numa dinâmica onde os participantes eram convidados a expressarem seus sentimentos e sensações reprimidas e não expressas, um homem pediu para ficar de fora da dinâmica. Ao final, pediu para explicar o porquê. Disse que sentiu que ninguém, naquela sala, participantes e organizadores, estariam preparados para lidar com o que ele trazia guardado dentro de si, em décadas de sentimentos reprimidos. Pode ser verdade. Acostumados a não lidarmos com as questões emocionais e os sentimentos de outros homens, estaria a sociedade pronta para receber tudo isso, de uma vez?
De alguma forma precisamos começar, pois este desequilíbrio em como os homens tratam suas emoções surte sim efeito em sua saúde física e mental. Não é de hoje que tratamos muitos sintomas físicos como causados por fatores emocionais, onde uma crise de ansiedade pode gerar uma dor crônica que perdura anos a fio trazendo mais desconforto. A resposta masculina, em geral, continua a mesma: “Não é nada, não se preocupe”.
A boa notícia é que sim, começamos. Vemos aumentar as discussões em torno do que seria um masculino saudável e crescer, por exemplo, os círculos de homens que discutem questões cotidianas de como é a paternidade nos dias de hoje, ou mesmo o que representa ser homem nos dias de hoje. Eu participo ativamente do Movimento Guerreiros do Coração, onde a ideia não é nos tornarmos homens mais “sensíveis” ou suaves, menos brutos. A ideia é nos tornarmos homens inteiros, aceitando tanto a nossa força quanto a nossa vulnerabilidade. E isso, posso garantir, tira um enorme peso das costas, de coisas não ditas ou reprimidas. Nos sentindo mais leves, a vida fica mais fácil. E ficando mais fácil, mais saudável. Pois eu vejo que posso e devo cuidar de mim, não pelo outro ou para o outro, mas por mim, pois eu sou homem e também mereço me cuidar e ser cuidado.
Francisco Masuda
(texto originalmente escrito para a Clínica Ita Wegman)
Referências
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https://br.mundopsicologos.com/artigos/alexitima-incapacidade-para-identificar-e-expressar-emocoes